terça-feira, 13 de setembro de 2011

As duas faces da inveja.

Aqueles que são invejados entristecem-se com o rancor que sentem à sua volta; se são orgulhosos, por receio de algum prejuízo; se generosos, por compaixão dos que invejam. Mas depressa se alegram: se me invejam, isso quer dizer que tenho um valor, dos méritos, das graças; quer dizer que sentem e reconhecem a minha grandeza, o meu triunfo.

A inveja é a sombra obrigatória do gênio e da glória, e os invejosos não passam, de forma odiosa, de admiradores rebeldes e testemunhas involuntárias. Não custa muito perdoar-lhes, quando existe o direito de me comprazer e desprezá-los. Posso mesmo estar-lhes, com frequência, gratos pelo facto de o veneno da inveja ser, para os indolentes, um vinho generoso que confere novo vigor para novas obras e novas conquistas.

A melhor vingança contra aqueles que me pretendem rebaixar consiste em ensaiar um voo para um cume mais elevado. E talvez não subisse tanto sem o impulso de quem me queria por terra.

O indivíduo verdadeiramente sagaz faz mais: serve-se da própria difamação para retocar melhor o seu retrato e suprimir as sombras que lhe afetam a luz.

O invejoso torna-se, sem querer, o colaborador da sua perfeição
Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'

Das fraquezas humanas talvez a inveja seja a mais sórdida.Invejar o outro é reconhecer-se inferior.Não há como se proteger de um olhar invejoso, que constrange profundamente quem é alvo dele.Segunda face da inveja? Não. Ela tem uma só: rancor.

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